Já eram cerca de 22h30m, estava pronto, limpo, perfumado, um perfume que pra dizer a verdade nunca li o rótulo, nunca foi importante, não o rótulo, talvez o cheiro, mas também não me lembro bem do cheiro, creio ser um cheiro doce, um pouco enjoado, mas ao mesmo tempo sutil, passei-o no pescoço, na gola da camisa e um pouco nos braços.
Saí, andei até a avenida São João, próximo ao número 17, onde havia 1 ponto de ônibus sem cor, na calçada, perto, uma senhora um pouco obesa passou rápido, talvez pela hora, me olhou com desdém, depois de juntar sua bolsa ao corpo, talvez por eu não ter desviado meu olhar dela, nunca desvio. Passados alguns minutos fiz sinal para 1 táxi, 1 Corsa Sedan. O taxista, 1 mulato, barba por fazer, pelos grossos no braço, dentes amarelos, devia fumar, usava uma camisa branca, meio amarrotada, ouvia a rádio JB, parecia com sono, aliás, JB me dá sono. Como de costume trocamos assuntos, disse a ele o que fazia, faculdade de letras, ele comentou que tinha 1 filho que fazia administração, também na UERJ, coincidências das que sempre ocorrem em táxis, comentou assaltos, futebol, o mesmo papo de sempre. Chegando à esquina da Filipinas com a Júlio Ramires, em aproximadamente 15 minutos, paguei a corrida e saí acendendo 1 cigarro, comprovei minha teoria no momento em que o taxista me chamou novamente pra me pedir 1 dos 19.
Andei duas quadras até que me encontrei em alguma rua, estava deserta, mas havia algumas senhoras sentadas em cadeiras de praia, 3 delas, mais à frente. Cheguei ao meu destino, depois de atravessar mais umas duas ruas parecidas com essa, uma casa de shows, iria apresentar-se uma banda argentina a qual nunca ouvi, existia uma praça perto, 1 velho me pediu 50 centavos alegando que iria usar pra tomar uma cachaça, abri a carteira e dei-lhe 1 Real, havia gostado do sujeito, também gostava de cachaça. Comprei 1 ingresso, paguei meia, 15 Reais, comprei cerveja, enquanto tomava fiquei a observar as pessoas, nada de anormal. Sentia-me solitário, tentava achar alguém tão solitário quanto, tanto fazia quem fosse, mas as pessoas sempre estão acompanhadas ou com a palavra ignorância escrita em seus tênis, mais nada de anormal, terminei de beber, acendi 1 cigarro e fui em direção à entrada.
Lá encontrei 2 ex-amigos de colégio, tinham estudado comigo no segundo grau, me contaram como estavam, Jorge era alto, forte, moreno, ostentava seu cabelo normal, e era 1 rapaz estranho, ganhava mal e também por isso gostava tanto dele, quanto menos dinheiro mais porcaria as pessoas falam e também mais bebem, de se admirar para alguém que só queria 1 companheiro pra ajudar a gastar seu dinheiro com entorpecentes e, ou, bebidas. Gustavo nunca me agradou, era gordo, não que seja algo ruim, mas tinha o jeito gordo ignorante de ser, era uma pessoa arrogante, ganhava bem, trabalhava no escritório de alguém fazendo alguma coisa, Jorge sempre bebia na conta do Gustavo, é algo que faz pessoas mal amadas terem companhia, nada de anormal. Gustavo era branquelo, tinha espinhas nas bochechas, cabelo comprido, 1 quilo de pulseiras coloridas nos pulsos, pernas finas e barriga chamativa, ahh, e também tinha 1 carro que não sei bem qual era, acredite é das coisas mais importantes na aparência dele, na verdade o resto não importa mais, tanto, não tem muito resto.
Gustavo dizia algumas coisas infames, eu tentava ser simpático mas não sabia demonstrar total desenvoltura, sorria de forma amarela, subia e descia as sobrancelhas rapidamente de forma irônica ao mesmo tempo que mostrava metade da arcada dentária superior, olhava pro lado, ainda procurando alguém solitário, não achava, queria conversar com Jorge, gostava dele, mas ele não era solitário, e nem estava são, não que fosse necessário, mas na maioria das vezes ria, sabe-se lá por qual razão, das perguntas que eu fazia. Como tá o seu trabalho? Hahaha, Tem visto a Juliana? Que Juliana? Hahahaha. Isso me irritava, nada de anormal. Gosto do Jorge. Me despedi com o velho Vamos marcar uma coisa, Vamos sim!, o pensamento de Sei! veio à mente de jeito comum, e o sorriso amarelo foi o que apareceu, nada de anormal. Enfim, entrei, o segurança me revistou mal como sempre.
Entrando, acendi 1 outro cigarro, tinha gente bloqueando a porta, algumas gentes, havia 1 pátio em frente à essa porta, a que dava ao salão de shows, fui para o canto mais isolado do gramado, me encostei em uma cerca azul e observei, jogava a fumaça pro alto, estava perto de 1 poste, e me interessava pelo mísero passatempo de ver carbono branco no preto do céu da 00h. Tudo ocorria de forma imperfeitamente normal, estava solitário, as pessoas à minha volta pareciam fingir se divertir, mas isso não me importava. Ao lado, no bar, 1 casal se conhecia, 1 rapaz branco, camisa verde, bermuda preta, cabelos arrepiados, óculos, boné, olhos castanhos e cabelos loiros, parecia conversar com uma moça, se era moça não sei bem, mas usava 1 vestido preto decotado, não havia marca de calcinha e já parecia alterada, era morena, tinha belas pernas, seios médios, cabelo encaracolado, falava com sotaque estranho, parecia paulista, também usava óculos, estilo secretária, mas estava mais pra ninfeta. O rapaz se empenhou bastante, tentou ser educado ao abordar a moça, aliás, moça que provavelmente não é moça, moças costumam usar calcinha, mas nada de anormal e nada que fosse do meu interesse.
Tive uma sensação estranha, mas nada de anormal, 1 calafrio e uma inexplicável vontade de olhar para direita, não vi nada demais, alguns grupos fazendo barulho, algumas garotas a gritar e pessoas a beber, resolvi dar uma volta pelo pátio, estava feliz, eu realmente me sentia bem em estar só. A única falta que eu sentia era a de alguém pra observar as estrelas comigo, sempre tive esse problema. Mar e estrelas são coisas das quais nunca encontrei alguém que gostasse tanto quanto gosto. Todos dizem gostar de olhar as estrelas e o mar, mas todos só conseguem ficar olhando eles por algum tempo, depois têm sono, como se mar e estrelas fossem radinhos sintonizados na JB. No meu caso as estrelas perdem pra mim, vão embora, dormir, antes. O mar não, mas nada de anormal.
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